Wednesday, February 28, 2007


Ela não latia. Revirava lixo. Não tinha o rabo cortado. Comeu músculo de terceira categoria por anos. Não mijava dentro de casa, mas mijava somente apoiada nas patas da frente. Gorfou na minha cara. Debulhava qualquer passarinho de bobeira. Pedia comida de gente e, quando não conseguia, comia sua própria ração. Gostava de batata frita e balas. Encheu o saco na minha primeira transa. Dormiu no pé de minha cama por muito tempo. Teve filhotes. Sempre encantou minhas namoradas. Foi motivo para meus amigos me sacanearem "O Roy tem um poodle Branco". Foi mote para discussão em divórcio. Me viu cabeludo. Não me reconheceu de cabelo curto. Até os nove anos cheirava cigarro, mas parou. Era folgada. Detestava coleira. Já caiu de uma pedra de oito metros e saiu andando. Já foi atropelada numa rua movimentada e só se arranhou. Caiu na piscina, já velha, sem ninguém ver e saiu sozinha. Passeio de carro era com ela mesmo. Me alegrava ao vê-la me receber. Acompanhou-me em dias que a casa estava vazia. Nasceu paulista, cresceu brasiliense e hoje, dia 28 de fevereiro, meu bom cachorro, aos 14 anos de idade, faleceu carioca.

O totó era gente fina à beça. Sentirei a falta do meu poodle branco ridículo.

3 comments:

Anonymous said...

eu sei a dor q vc tah sentindo...sinto muito!!
meus pessames!!

Anonymous said...

Sinto muito!

_marimah said...

Oi...
não te conheço.
Provavelmente, por ser um post antigo, nem verá o comentário.
Mas, enfim...
Queria te dizer que foi lindo.
Chega a ser bizarro usar o adjetivo pruma dor assim, mas lida a homenagem.
Parabéns pelo "poddle ridículo" (e, pela descrição, definitivamente muito sagaz) que esteve contigo por 14 anos, e mais ainda pelo q sentia por ele.
Parabéns.

Mariana Marra

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