Friday, August 03, 2007

Peço licença aos dois leitores de Figueiredista para desvirtuar um pouco o propósito desse blog, e voltar a dar a esse meio sua matriz; A de ser um diário.

Mas, vejam, não publicarei tão somente histórias dos meus libidinosos casos com altas executivas famosas, do meu problema com jogatina ou relatar os trotes que passo para o Disque Denúncia. Mesmo sendo ligações tão divertidas, percebo que escrever sobre minha jornada de procura de um emprego fixo poderá fazer dessas publicações algo interessante. Talvez, até mesmo inspirar algum internauta desocupado a fazer o mesmo. Que be-le-za!

”O profissional liberal tem a desvantagem de poder ter um domingo como segunda-feira. Mas, em contrapartida, alguma segunda-feira pode ser um domingo.” Não lembro quem me disse essa frase. Talvez a tenha cunhado, esse é o mal de trabalhar com artes, plagio sempre e confundo-me com autorias. Mas, o que importa, é que a frase foca somente um lado dessa vida ingrata e acaba por ocultar um problema que, ao meu ver e no meu caso, é o pior de todos; Você é seu próprio chefe.

Ter eu como meu chefe é sentir-me pressionado a atender uma gama enorme de caprichos impossíveis. E não me refiro a arranjar prostitutas ou organizar festas de arromba, isso seria bem fácil administrar. Mas, meu chefe queria que eu trabalhe 2 horas por dia e ganhasse R$ 15.000,00/Mês. Meta bem difícil num país como o Brasil. E, em especial, se é um cidadão que preza pela honestidade e a inviolabilidade de seu corpo. Infelizmente, qualquer consultor empresarial diria que meu chefe deveria parar de ver o jogo Banco Imobiliário como referência administrativa, e atentar-se ao mundo real. Mas, como acreditava e respeitava meu chefe, acabei entendendo que a meta, além de válida, era factível. Até hoje não funcionou e ambos - o “Eu –chefe” e o “eu-empregado” – estamos furiosos.

Sendo assim, decidi pedir demissão. (Acredito que meu chefe tenha me demitido. Mas, de qualquer maneira, adotarei a primeira opção. Parece-me mais digna.) Achei por bem procurar um emprego de verdade e trabalhar naquilo que pessoas normais chamam de “horário comercial”. Confesso qua na primeira vez que tentei trabalhar em “horário comercial”, fiz uma confusão, trabalhava somente nos comerciais dos meus programas televisivos prediletos. Rá-rá.

Mas, piadas forçadas à parte, foi exatamente isso que decidi. Chega dessa vida instável! Basta de acordar em horas estranhas! Dessa vida desregrada nada levei e de hoje em diante, estarei procurando e relatando aqui minha busca por um emprego! “O trabalho dignifica o homem”. Acredito que o trabalho em horários regulares e salários levemente garantidos (mas dignos) adiciona sentido à frase.

Mas não posso simplesmente me levantar e arrumar um emprego. Preciso que esse movimento tenha sucesso e, inspirado na Polícia Federal brasileira, que anda muito bem sucedida em sua trajetória recente, batizarei minha operação particular com um nome ridículo. Depois de um segundo de “brainstorm”, não pude dar outro nome a não ser “Operação Dezdomês”. Uma menção clara ao dia 10 de cada mês, onde as contas vencem. Adorei o nome por ser sem graça, sem estilo e completamente forçado. Se deu certo essa filosofia para a PF, certamente dará para mim.

Dei início à “Operação Dezdomês” no primeira hora do dia de hoje. Acordei às 7h da manhã e levantei às 14h25 (toda operação merece ser bem revisada antes da execução e em lugar quente e confortável). Com a disposição de quem corre de seus credores, levantei especialmente esperançoso e fiz comigo um “Check list” antes de colocar meu time em campo, aspirando ao único objetivo da “Operação Desdomês”; Um emprego fixo. E foi o “check List”; Cabeça erguida; Ok. Vontade de trabalhar; Ok. Humiladade; Ok. Lista de empresas selecionadas; Ok Suor nas Mãos; Ok. Medo; Ok, Ok, Ok. Parentes influentes; Nulo... Estava para terminar minha “check” quando verifiquei que faltava algo primordial, meu currículo.

Escrever sobre mim pareceu-me tarefa bastante fácil no começo. “Bem humorado, pintoso, gosta de esportes. Um pisciano com dotes físicos e dançarinos invejáveis.”. Mas, fazendo uma pesquisa, descobri que as pessoas falam de sua vida profissional num currículo. Fez sentido. De imediato procurei coletar minhas experiências profissionais e acadêmicas para traduzir em letras meu estimado perfil.

Depois de parar de chorar por ver que minha vida não tinha valido de nada até então, achei por bem lançar mão da mais preciosa ferramenta da língua portuguesa, o eufemismo. Ardil velho e picareta que me rendeu algumas páginas e cargos bem convincentes. Mas, no meu julgamento, ainda não estava pronto.

Ainda confuso, procurei ajuda em sites especializados em empregos, onde dão dicas estúpidas de como escrever sobre sua desastrosa vida acadêmica e profissional. Por exemplo, me sugeriram que eu deveria incluir meu período de participação no movimento estudantil da faculdade. Podem imaginar minha surpresa. Aqueles dias de porre incontroláveis e inação no Centro Acadêmico, foram interpretados como “capacidade de liderança”. Obrigado, Catho. Incluir o nome “Rockefeller Ghandi III” ao meu foi uma pincelada minha, que mais tarde acabei desistindo. O nome ficou na cabeça e guardei-o bem. Até agora acho uma ótima sugestão para um filho vindouro.

Currículo pronto e a hora de bater perna chegara. Façamos o seguinte; Para ilustrar melhor como foi essa busca, voltemos àqueles horrendos filmes dos anos oitenta, que têm aquelas cenas onde o sujeito que fará alguma coisa revolucionária (geralmente ir com alguém “cool” a uma loja e cabelereiro para mudar de estilo “nerd” para “descolado”) passa a ser visto numa seqüência rápida de cortes e uma música bem animada de fundo;


(CENA 1ª; RODRIGO DE ÓCULOS ESCUROS. UM SORRISO COROADO POR UMA BARBA HETEROSSEXUALMENTE BEM APARADA, MOCHILA NAS COSTAS E UMA RESMA DE CURRÍCULOS DEBAIXO DO BRAÇO. SOM DE “WHY DON´T YOU GET A JOB?” DA BANDA “OFF SPRING” NO PRIMEIRO PLANO. CENAS RÁPIDAS, SEM DIÁLOGO E REPLETAS DE GESTOS BEM EXPRESSIVOS MOSTRAM ENTRADAS DE RODRIGO EM RECEPÇÕES DIVERSAS. EM TODAS, RODRIGO ENTREGA O CURRÍCULO E A SECRETÁRIA BALANÇA A CABEÇA, SINALIZANDO UM "NÃO". TODAS AS SEQÜÊNCIAS MOSTRAM O NUANCE ENTRE O PRIMEIRO SORRISO ESPERANÇOSO ATÉ O CAIR DE OMBROS DA ÚLTIMA ENTREGA CURRICULAR. A MÚSICA TERMINA COM RODRIGO SENTADO NA CALÇADA, ENXUGANDO AS LÁGRIMAS COM UM JORNAL DE EMPREGOS, QUE SUJA TODA SUA TRISTE CARA)

Tirando aqui e colocando ali, foi mais ou menos isso que aconteceu hoje. Mas, foi só hoje. Amanhã tem mais e certamente aprendi lições valiosíssimas com essa quinta-feira, como comprar lenços em vez de usar o jornal para enxugar o rosto lacrimejante, por exemplo.

No mais, contando que tenha sempre a torcida das duas pessoas que lêem esse blog, fico por aqui, ainda desempregado mas ciente da sacra importância da Operação Dezdomês.

No comments:

Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons